Nas praias brasileiras, o Projeto Tamar orquestra uma sinfonia de proteção e ciência. Com a chegada das tartarugas marinhas, uma trama intricada de desova e monitoramento se desenrola, revelando como o tempo e a temperatura moldam o futuro da espécie. Descubra o cenário de vigilância e pesquisa que dá vida a essa história natural.
O Ciclo das Marés: A Jornada das Tartarugas e o Projeto Tamar em Defesa da Vida Marinha
A chegada da temporada de desova das tartarugas marinhas no Brasil é um espetáculo da natureza, que se desenrola com a precisão de um ritual ancestral. Inicia-se em setembro, quando as fêmeas das tartarugas cabeçuda e oliva, com sua graciosa imponência, chegam às praias do litoral brasileiro. Este evento grandioso, que marca o início de um ciclo vital, prossegue com a chegada das tartarugas de couro e se estende até março de 2016, quando os filhotes finalmente emergem para a vida marinha.
A narrativa deste ciclo de vida é tecida nas areias das praias da Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Rio de Janeiro, e avança para Fernando de Noronha em janeiro, com a chegada das tartarugas verdes e a tartaruga pente. Cada etapa desse processo é cuidadosamente monitorada pelos oceanógrafos do Projeto Tamar, que, com o apoio de uma legião de pescadores-tartarugueiros, veterinários e voluntários, garante a preservação desse tesouro natural.
Guy Marcovaldi, coordenador nacional do Projeto Tamar, detalha como este esforço coletivo contribui para a conservação e estudo das tartarugas marinhas, fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas oceânicos. É uma obra de paciência e dedicação, um testemunho da relação entre o homem e o mar, que ressoa com a persistência e a beleza dos ciclos naturais.
Os filhotes das tartarugas marinhas começam a romper a casca aproximadamente dois meses após a desova
Um ciclo que se desenrola ao longo de dois a três meses de cada temporada. Como pontuado por Guy Marcovaldi, o nascimento dos primeiros filhotes começa a se manifestar em novembro, em um processo que se repete com precisão há 33 anos. “A preparação para a desova e o nascimento dos filhotes é uma constante”, afirma Marcovaldi, destacando o esforço incessante de um batalhão de profissionais e voluntários que se dedicam a garantir a segurança e a eficácia das pesquisas científicas.
A melhoria na segurança das desovas é notável. O roubo de ovos e a matança de fêmeas, outrora um problema grave, foram amplamente erradicados, refletindo um progresso significativo. “No entanto, o trabalho deve continuar com atenção às estatísticas e às tendências nacionais”, ressalta Marcovaldi. Este esforço contínuo visa não apenas a proteção das tartarugas, mas também a compreensão aprofundada de seus comportamentos e desafios.
O coordenador do Projeto Tamar celebra o crescimento da população de tartarugas desovando, uma conquista que reflete a dedicação ao longo das últimas três décadas. Com a nova geração de fêmeas reprodutoras, que agora atingiram a maturidade e iniciaram a reprodução, estima-se que a população adulta seja de aproximadamente 21 mil animais. Este aumento é um testemunho do impacto positivo do projeto, simbolizando a resiliência e a vitalidade contínua das tartarugas marinhas.
As tartarugas marinhas, ao longo de dois anos, se dedicam a acumular energia, alimentando-se intensivamente para formar os ovos que futuramente serão postos. Após esse período, elas deixam suas áreas de alimentação e se dirigem às praias para a desova, uma jornada que abrange cerca de 7 mil tartarugas anualmente, conforme relatado pelo oceanógrafo Guy Marcovaldi.
O Projeto Tamar adota uma metodologia de amostragem para monitorar a desova, selecionando trechos específicos das praias para coletar dados, que são posteriormente extrapolados para o restante do litoral. “Essa é uma técnica científica aprovada”, observa Marcovaldi. No ano passado, o projeto registrou o nascimento de 1,2 milhão de filhotes no Brasil, um número que levou 15 anos para alcançar um patamar razoável e 30 anos para se tornar significativo.
A temperatura da areia durante a incubação dos ovos é crucial na determinação do sexo dos filhotes. Marcovaldi explica que temperaturas abaixo de 27 graus Celsius favorecem o nascimento de machos, como observado em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro. Por outro lado, temperaturas superiores a 33 graus Celsius, comuns na Bahia e Sergipe, resultam na predominância de fêmeas, com 90% das tartarugas nascidas nessas regiões sendo do sexo feminino. Esta dinâmica ressalta a importância da diversidade de locais de desova para garantir um equilíbrio populacional, essencial para a fecundação futura das tartarugas marinhas.